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Como anda a Guerra Fría? - Paulo Roberto de Almeida

17/11/2022 00:00




Então, minha gente, como andamos de Guerra Fria?

Por Paulo Roberto de Almeida **
 
Vamos fazer um retrospecto rápido.

Depois da gloriosa revolução proletária de 1917 - na verdade, um mero putsch bolchevique que fechou o parlamento e a constituinte que tentavam criar um regime democrático no recém finado absolutismo czarista -,  houve uma guerra quente: a dos revolucionários brancos "apoiados por potências ocidentais" contra o Exército Vermelho: este ganhou, e implantou uma ditadura ainda mais cruel do que a do czarismo.

Não houve nenhuma conciliação da URSS com o Ocidente; ao contrário, fomentou golpes e revoluções em diversos países, inclusive na China (1927) e no Brasil (1935), ambos fracassados.

Uma aproximação, mas por necessidade, se deu em 1941, após a invasão da URSS por Hitler, com quem Stalin tinha feito um "pacto de colaboração" em 1939, para decepar a Polônia.

Se não fosse pela ajuda americana e inglesa, a URSS teria sido vencida pela Wehrmacht, e a União Soviética, a Europa e boa parte do mundo teriam sido submetidos pelo totalitarismo nazista talvez por 30 anos.

Os líderes aliados (Roosevelt, Churchill e Stalin) se encontraram várias vezes durante a guerra, depois não mais, e a Guerra Fria começa de fato em Berlim a partir de 1947.

Apenas com a crise dos mísseis soviéticos em Cuba, em 1962, eles começam novamente a se falar, nessa fase de Détente na Guerra Fria, mas esta continuou, mesmo com negociações seguidas de "controle" de armas estratégicas pelos 20 anos seguintes. O socialismo continuou a bater pinos e a caminhar inconscientemente para o declínio e o desaparecimento.

Antes disso, o último líder soviético, ou da URSS, amenizou o clime da Guerra Fria, que só terminou mesmo com a implosão do socialismo e o fim da União Soviética.

A Otan criou um programa para a Rússia e o G7 incorporou a Rússia e a considerou uma economia de mercado, em 2002, mesmo com dúvidas sobre a conversão real do país à democracia e à economia de mercado.

O ex-KGB e saudosista do império soviético que conquistou o poder em 2000, e nunca mais largou, criou a maior cleptocracia do mundo, e investiu zilhões em rearmamento.

Enquanto isso, a China, aceita no Gatt-OMC, deu continuidade à sua fulgurante ascensão na economia e no comércio mundial, ultrapassando todo o G7 (menos EUA) e deixando a Rússia na sua rabeira (candidata a uma possível colonização econômica num futuro de médio prazo).

Enquanto a Rússia perdia importância - salvo para fornecimento de energia à Europa - os dirigentes chineses pós Deng se encontravam com seus parceiros ocidentais, aperfeiçoando a incorporação da China à economia mundial. 

Os EUA se comportaram muito mal no momento unipolar pós-Guerra Fria, tratando com soberba tanto a Rússia quanto a China, e se submeteram à paranoia dos chefes do Pentágono, que passaram a considerar a China a sua inimiga estratégica (quando esta considerava os EUA seus aliados naturais, contra uma Rússia ainda perigosa).

Este foi o momento decisivo, de volta a uma Guerra Fria econômica, que não deveria existir se os EUA aceitassem a ideia da Chimerica, a complementaridade natural entre as duas maiores economias mundiais, em benefício da paz e da segurança internacionais, sobretudo em favor dos países em desenvolvimento. Perdeu-se a maior oportunidade do pós-Guerra Fria e criou-se uma fissura entre os dois gigantes.

O que era apenas uma Guerra Fria Econômica ameaçou converter-se em guerra quente por causa de uma pequena ilha que NUNCA pertenceu à jurisdição soberana da RPC, mas que era parte do antigo Império do Meio, que o novo Imperador (rompendo com o bom sistema de alternância criado por Deng) quer recolocar na sua esfera de domínio imperial.

O encontro Biden-Xi em Bali promete inaugurar uma nova Détente, sem que os fatores da nova Guerra Fria estejam desativados, pois eles são alimentados pela hubris imperial dos dois grandes contendores.

Conclusão: teremos mais alguns anos, talvez décadas, de gastos inúteis com armamentos sofisticados (que nunca serão usados), em lugar de uma cooperação em prol da paz mundial e do desenvolvimento internacional.

Os impérios por vezes são seguros, para dentro, mas quando suas placas tectônicas se tocam, desastres podem ocorrer.

Esta é a minha visão do cenário atual.

** Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, catedrático, escritor 
Foto Biden-Xi - Reuters ­


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