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O empobrecimento da mente humana - Silvia Caetano

11/04/2023 00:00




O empobrecimento da mente humana

Por Silvia Caetano ** 

­LISBOA- Parece premonição e é. Centenas de anos antes de Cristo dois antigos deuses egípcios já discutiam problemas semelhantes aos causados pelo atualíssimo ChatGPT. 

Segundo reza a lenda, um deles, o Deus Theuth, teria inventado os números, a aritmética, a geometria, a astronomia, o jogo de damas, os dados e, acima de tudo, as letras.

Reinava então naquela região o Deus Thamus, que habitava na cidade de Tebas, a quem Theut mostrou suas criações, explicando cuidadosamente a utilidade de cada uma celas, na expectativa de receber seu apoio. Quando chegou a vez de apresentar a escrita, Theut argumentou que essa invenção tornaria os egípcios mais sábios pois promoveria suas memória e sabedoria.

Qual não foi sua surpresa quando o Rei ,que ouvia atentamente suas explicações, questionando aqui e ali algumas delas,  reagiu discordando energicamente do que Theut apontava como uma grande vantagem da escrita. Conforme acreditava o rei, a escrita produziria efeito inverso ao pretendido, o que é claro, não ocorreu. 

Para ele, a invenção levaria ao esquecimento na mente daqueles que a aprendessem, pois não mais exercitariam sua memória por causa da confiança que teriam na escrita, que é algo exterior e proveniente de caracteres alheios. Dessa forma, não mais praticariam a lembrança, que é interior.

O diálogo entre os dois deuses foi abordado por Platão, em Fedro, - jovem ateniense, filho de Phythoclès - um interlocutor em diversos dos seus escritos. Composto por volta de 370 a.C., ocorre entre o protagonista principal de Platão , Sócrates, e Fedro, chamando atenção por sua atualidade nos dias em que a Inteligência Artificial - IA- tomou conta do noticiário da imprensa mundial.

Assim como o rei Thamus revelou-se amedrontado com a invenção da escrita, estudiosos da IA vem alertando para os riscos de o ChatGTP provocar o empobrecimento da mente humana. Como essa ferramenta obedece a comandos para escrever sobre qualquer tema, funcionando a partir de uma base de conhecimento atualizada que permite decodificar palavras para
oferecer respostas textuais às pessoas, torna-se desnecessário recorrer aos neurônios para redigir bons textos.

É aí que mora um dos seus perigos, que são muitos, diversos e, até aqui, incontroláveis. Além das suas reconhecidas vantagens, o ChatGPT possui um lado assustador. A ferramenta pode oferecer também uma aparência de sabedoria aos ignorantes e incultos, permitindo que se apresentem como bem-informados e instruídos.

Embora possa auxiliar na escrita que não representa plágio, o ChatGPT está obrigando professores de todos os níveis a recorrerem a sites para verificação da origem da produção intelectual dos seus estudantes. Na semana passada,
numa turma de 40 alunos de uma Faculdade de Medicina em Brasília, quatro foram apanhados com a boca na botija.

** Silvia Caetano é jornalista, com vários anos de profissão em Brasília e atualmente correspondente em Lisboa.
Crédito imagem: Freepix


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