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Anos de chumbo e de circo - Guillermo Piernes

18/08/2023 00:00




­Anos de chumbo e de circo neodemocrático   

Por Guillermo Piernes **

Durante os anos de chumbo e escuridão na região, como profissional da comunicação escrevi artigos para as principais agências mundiais de notícias, pronunciei palestras, fiz um livro, acreditando que governos democráticos seriam futura panaceia para os males sociais.

Nesses anos, dúzias de colegas jornalistas pagaram com suas vidas, muitos foram barbaramente torturados. Outros partiram para o exílio, um deles foi meu pai. Eu fui banido durante dois anos de entrar na Argentina durante a ditadura, além da pressão psicológica por ter parte da família no meu país de origem. Apenas por escrever sobre injustiça fantasiada de progresso.  

Como muitos, eu pensei que tínhamos finalmente chegado a regimes democráticos na região. Errado. Fracassamos em atingir um regime democrático pleno na América Latina. Apenas logramos um Estado de Direito, que com frequência é manipulado como verniz de legalidade para ações mais do que condenáveis a luz da real justiça.  

A legalidade mudou. Os nossos índices em educação, saúde, transparência, desenvolvimento humano continuam no mesmo nível lamentável. Os índices ambientais continuam piorando. Boa parte dos chamados representantes do povo são representantes de interesses distantes desse povo, e vários legisladores que legislam em causa própria saem do jogo político admissível para praticar simples chantagem para atingir seus objetivos. 

Voto segue obrigatório na América do Sul com uma maioria embrutecida e manipulável. O poder econômico privilegia pão e circo em vez de educação, a compra de votos é disfarçada de auxílio, mecanismos legais livram da cadeia aos abutres dos cofres públicos, vários partidos políticos parecem interessados apenas em seus privilégios, poderosos meios de comunicação idiotizam. 

Pela falta de educação histórica de qualidade são estigmatizadas as heranças indígenas, além de permanecer a exaltação dos impérios europeus que chegaram com maior intenção de tirar do que contribuir para o desenvolvimento destas terras.   

Esses mecanismos integram um circo neodemocrático legalizado, mas sem ajudar para o funcionamento de uma democracia real que melhore a condição de vida de todos.

O pior é que está sendo corrompida a alma do povo, parte do qual aceita passivamente a desonestidade e a falta de escrúpulos, desprezo a cultura, incentivo a violência e a tortura,  desrespeito ao conhecimento, veneração da banalidade, corrupção e suborno como trilhos para negócios, desvalorização da vida humana.

Hoje, nos países do Cone Sul, são centenas de milhares que sonham com a volta de ditaduras militares ou apoiam líderes que podem ser comparados aos piores genocidas da História. 

Nem me animo a escrever Meus Deus! para desafogar o receio que cheguem ou voltem ao poder com seu desprezo a paz e as vidas humanas. O nome de Deus é usado em vão e cotidianamente, para desorientar rebanhos de pessoas com fé. Também o nome de Jesus, a diário é seguido por uma conta bancaria nos programas de TV.

Igualmente, muitos buscam identificar as forças armadas como guardas da moral. É um enunciado falso! Entre outros fortes argumentos contrários, defender valores é uma causa de todos, fardados ou não. Corrupção é praticada por civis e fardados, como provam os noticiários. Um quadro lamentável depois de tantas batalhas.

Simon Bolívar, Libertador das atuais repúblicas de Venezuela, Colômbia e Bolívia, morreu aos 42 anos. Confessou sentir que tinha arado no mar ao pretender um câmbio radical na América Latina depois da vitória pela independência contra o exército da Espanha, então forte império da época.

José de San Martín, Libertador das atuais repúblicas de Argentina, Chile e Peru, morreu pobre e autoexiliado na França para evitar participar nas lutas internas depois da sua vitoriosa campanha militar.  

Quem escreve carece de mais tempo para seguir a sua microscópica batalha por maior justiça. Este escriba perdeu a energia de antanho para mais choques com ditaduras ou para participar ativamente no circo neodemocrático. 

A este escriba só resta colocar a máscara de palhaço e desejar coragem e sorte para os novos sonhadores de maior justiça.  

** Guillermo Piernes - Jornalista, diplomata, escritor 
** A  Máscara - Pintura de Armando "Popi" Valdés, talentoso e saudoso primo do autor do artigo.   


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