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Sem culpa na eleição argentina - Guillermo Pierrnes

19/10/2023 00:00




Sem culpa na eleição argentina 

de Guillermo Piernes **

Nasci na Argentina e por isso sou bombardeado, inclusive por brasileiros com poder politico ou de comunicação, para explicar o fenômeno Javier Milei, com possibilidades de ser o próximo presidente desse país.

Um ponto muito abordado pelos meus inquisidores aqui respondo: Não posso julgar se Javier Milei é um louco de atirar pedra, delirante, alucinado ou onde se encaixa no quadro de saúde mental, porque não sou psiquiatra, nem psicólogo, nem psicoanalista. Também na minha longa trajetória profissional na área do jornalismo e a diplomacia, nunca mantive uma conversa com esse candidato,

O que fiz foi ler, ouvir, assistir vários dos seus pronunciamentos que me deixaram indignado pela sua falta de conhecimento histórico e ignorância da condução das relações internacionais. Também raivoso pelos seus insultos ao Papa chamado por ele de "representante do Maligno", do que se desculpou oportunamente, ao fim da campanha.

Fiquei irritado com os gratuitos ataques ao presidente do Brasil, que sempre provou trabalhar por uma boa relação com Argentina. Sei que os países não tem amigos, mas interesses. São gigantescos os interesses mútuos. Lula sabe bem disso. Milei sabe nada disso.  

Também fiquei exasperado sobre o total desconhecimento da importância do Mercosul para manter a paz neste subúrbio do mundo, quando em África, Oriente Médio, se mata por território, comercio, religião, e onde se carece de um processo de integração efetiva.

Em relação ao Mercosul, eu tive o privilegio de ser uma pequena peça no processo de concreção, participei de várias negociações. A semente desse mecanismo integrador foi em 1980, enterrando de vez a possibilidade de guerra, ventilada durante a crise da construção da represa de Itaipú, com governos militares nos dois lados da fronteira.

O comercio bilateral disparou e ficou normal beber vinho, consumir azeitonas, alho, maças, trigo da Argentina no Brasil e os argentinos conduzirem carros feitos no Brasil, entre outros muitos exemplos. Quanto floresceu o turismo em ambos sentidos. Muito mais importante foi à consolidação da paz, além do entendimento que para negociar com Europa, Estados Unidos, China ou países asiáticos era melhor esses países estarem juntos.

O candidato disse que, na sua visão "livre comércio não inclui o Estado".... Pode se acreditar nisso quando o próprio governo americano decide quem pode vender e quem pode comprar certos insumos?. Como acreditar, se hoje as empresas americanas voltam a comprar de petróleo da Venezuela, pela decisão das autoridades de Washington de flexibilizar o embargo. Os exemplos são milhares no mundo. Podemos falar seriamente de "livre comercio"?. Como expressão de desejo pode ser aceita, como prática constatável, não.

Milei propõe a saída individual para Argentina e o dólar como a sua moeda oficial. Lembro que a dolarização extra-oficial existe a várias décadas. É um país empobrecido pela incompetência quase constante dos seus governantes, que foi abandonado pelo seu maior aliado ocidental (Estados Unidos), na guerra das Malvinas. Uma Argentina que é pressionada até o último suspiro pelo FMI, tem possibilidade de sucesso, de agir sozinha? Milei, speak seriously.

Milei qualificou apenas como "excessos" os milhares de assassinatos perpetrados pela ditadura militar argentina, os milhares de torturados, os milhares que foram forçados a emigrar para não morrer, entre eles meu pai, um jornalista honesto, apenas. Eu estive banido por ser um jornalista e escrever uma reportagem isenta para a revista espanhola Cambio 16. por dois anos. Foi dolorido mas sem comparação a ser torturado ou ser assassinado. Tenho vontade de perguntar ao candidato Milei: Matar a própria mãe é crime ou contravenção?. Fico confuso pela visão de um candidato com possibilidades de passar a governar a deteriorada Argentina.

Perante esse candidato com possibilidades, sem ter a obrigação legal, irei a votar no consulado argentino, para tirar da consciência toda culpa. De acontecer à tragédia, acredito que o povo argentino estará renunciando a esperança. Eu felizmente tenho a saída individual. 

Em caso de acontecer o indesejável, solicitarei a cidadania brasileira, a mesma dos seres vivos que mais amo, e direi, chorando, "Argentina, bye, bye".  

** Guillermo Piernes - Jornalista, ex portavoz de organismo internacional, escritor 
* Pintura Monstruo - Mirta Benevente


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