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Um conto quase divino - Guillermo Piernes

17/07/2020 00:00




Um conto quase divino

Por Guillermo Piernes **

Nem um minuto a perder, o desastres ambientais já destruiam cadeias produtivas e apavoravam a maior parte de população em 2045. A Assembleia Geral de Emergência Máxima da Organização das Nações Unidas modificou todo o tradicional cerimonial das outras assembleias.  

Nada de discursos dirigidos ao publico interno, reiteração de assuntos que não tinham sido resolvidos por décadas, recriminações por resoluções descumpridas, acusações entre países e muito menos discursos para boi dormir.

Nessa Assembleia Geral em setembro de 2040 apenas um orador, o Secretário Geral da ONU. Ele usou apenas quatro minutos perante o plenário lotado com dezenas de reis, presidentes, ministros de relações exteriores. Cada palavra transmitida pela quase totalidade dos meios de comunicação do mundo.

"...Senhores membros das Nações Unidas:

Durante anos a ciência alertou, e nesta sala foram realizados inúmeros pronunciamentos e promessas para corrigir o rumo para deter o processo de mudança climática.

Com profunda dor comunico a todas as nações que a mudança climática não tem volta. Sobre isso existe hoje unanimidade dos cientistas. Fracassamos.

Cidades são arrasadas pelas águas e furações, milhões passam sede e fome pelas secas e enchentes descontroladas que impedem boas colheitas. Os refugiados do clima aumentam cada dia. Ficará pior. Teremos mais guerras por comida, energia ou água. 

O caos já entrou em grandes setores produtivos e financeiros, cresce a violência. Apenas o começo de uma longa penúria.

Grande parte de esta tragédia poderia ter sido evitada. A falta de consciência, excesso de egoísmo, lucro acima de tudo, carência de compromisso, ignorância e alienação conduziram governos e boa parte da população mundial para aceleração da radical mudança climática. As nações não se uniram para enfrentar o desafio. Fomos derrotados.

Sabemos da força do instinto humano para sobreviver. Com essa força muitos sobreviverão. A maioria da população do Planeta buscará seguir com suas rotinas de vidas. Mas já perdemos milhares de rotinas e de vidas.

Nos próximos anos, que cada indivíduo lute para preservar a vida com espírito de fraternidade e solidariedade. Consideramos que foi esgotado o arsenal de medidas dos governos para evitar uma enorme tragédia ambiental. Os países em conjunto devem buscar imediatamente novas soluções, ignorando fronteiras e soberanías, com posições em prol do bem comum da especie humana. Consideramos que foi esgotado o atual arsenal de medidas dos governos para evitar a tragédia. 

Que cada povo da Terra peça ajuda ao seu Deus ou Deuses para que a Natureza permita que sonhemos com um futuro melhor para as próximas gerações e ilumine cada alma... ".

Os aplausos coroaram as palavras carregadas de verdade do homem esgotado e derrotado que desceu lentamente do palco. 


Não foi por falta de aviso
Fazia mais de uma década que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU informasse que muitos impactos do aquecimento global eram simplesmente "irreversíveis".
Os seres humanos como a Natureza estavam sendo pressionados além de sua capacidade de adaptação.
Em 2022 foi produzido um  preocupante relatório no qual o IPCC afirmara que em volta de 40% da população mundial era "altamente vulnerável" ao estado do clima. Que existia a esperança que o aumento das temperaturas ficasse 1,5 grau Celsius acima dos níveis da era pré-industrial.
A esperança não foi acompanhada de ações efetivas coordenadas dos estados, nem pela movilização da maioria dos habitantes do Planeta. Pelo contrario conflitos bélicos ajudaram a piorar o efeito estufa e a ignorar promessas ambientais e pareceu crescer a alienação das populações.
Passada mais de uma década de aquele relatorio, o aumento das temperaturas chegou a 2,4 grau Celsius.
Os furacões se multiplicaram fora de suas áreas históricas, o tamanho da calota polar derretida superou em tamanho a superfície do México, as tormentas cresceram em violência. O mundo rumava para um encontro com a fome e a morte, após o sofrimento com a peste e a guerra.
A percentagem de população "altamente vulnerável" passou a ser de quase 48% pelos novos estudos, ou seja que 4 bilhões de seres eram forçados a abandonar suas terras, trabalhos, passar fome, a enfrentar a morte.
Tudo havia mudado para pior. Cidades litorâneas como Rio de Janeiro, Recife, João Pessoa, Miami e Nova Iorque eram castigadas constantemente por fortes resacas com o aumento do nível das águas do mar e dos ventos assustadores. Prédios, casas, fabricas, comercio foram barridas do mapa. A quantia de habitantes diminuía nas cidades porque faltava emprego e sobraram riscos. No ambito rural era chuva ou seca, calor ou frio em níveis extremos. A mudança climática estava mais para castigo climático. 

A chamada Pampa úmida era uma planície estorricada pelo sol assim como o Cerrado, com escassas chuvas e sensíveis quedas nas colheitas de grãos. As queimadas devoravam mais e mais hectares dos bosques remanescentes, onde o fogo incendiava ninhos de pássaros, esconderijos de todo tipo de animais, aves, insetos e seres humanos.
As Cataratas do Iguaçu mostravam apenas filetes de água, arrastando na sua caída sua o turismo da região. Incêndios consumiam o Pantanal  transformando espelhos de água em lodo, arvores em cinzas, peixes em artigo de luxo e grandes rebanhos em lembranças de tempos melhores. A Amazonia tinha perdido uma Europa da sua cobertura vegetal em 20 anos. 
Na Bélgica, furações. Muiita neve em Roma e Barcelona, enchentes na Alemanha, tsunamis no Japão e Malásia. Isso provocava sofrimento porem a fome avançava silenciosamente. A isso somava a contaminação por mercúrio de peixes nos rios amazônicos, o plástico lançado a diário nas águas de rios e mares, a falta de forragem para alimentar todos os rebanhos de bovinos, caprinos e suínos. Menos pão e peixe, pouca agua e vinho. 
Muita violência, nas cidades e no campo. Além de assaltos, roubos, as invasões se sucediam nas propriedades rurais, com contingentes de desamparados em luta para sobreviver. Governos inescrupulosos indicavam sempre a saída do inimigo externo para distrair as massas cegas.  
Como dar um basta a todo isso...era a questão.

Religiosos unidos jamais serão vencidos

O discurso do Secretário Geral da ONU foi o estopim para o disparo de centenas de emails, mensagens de whatsapp, telefonemas e videoconferências entre os lideres das diferentes correntes de igrejas, religiões, crenças populares e representantes de agnósticos e ateus.
Como a Humanidade em grave perigo o consenso entre os lideres religiosos foi que também deviam participar os que consideram vã qualquer ideologia religiosa por não poder ser comprovada empiricamente, ou seja os acreditavam em Deus porem não acreditavam nos supostos intermediários, e os ateus.
Sobre os ateus os líderes religiosos concluíram que por somar mais um bilhão de pessoas também mereciam opinar sobre os caminhos da salvação da Humanidade.
Foi duríssimo exercício porem finalmente o objetivo foi conseguido. Marcar uma data para reunir os chefes máximos do cristianismo, islamismo, agnósticos, hinduísmo, budismo, umbanda, candomblé, siquismo, judaísmo, xintoísmo, zoroastrismo, taoismo, e outras religiões, cultos e crenças de todos os povos. 
Discutir o possível fim do mundo conhecido até então na busca de uma solução foi o argumento que venceu todas as barreiras.
Uma regra aprovada para indicar membros de cada delegação foi motivo de discussões acaloradas. A pressão por encontrar respostas a curto prazo empurrou ao consenso.
Foi requisito obrigatório a ilibada reputação de cada um dos participantes da chamada Conferencia Ecumênica da Salvação. brigatório. Foi um tema muito delicado porem foi aprovado finalmente por maioria.
Assim, bispos, pastores, missionários, pajés, pais de santo, autodeclarados bruxos ou milagreiros que foram condenados em alguma instancia por abusos sexuais, corrupção, extorsão, discriminação racial e outros crimes foram proibidos de chegar a Meca.
Devia ser uma Conferencia onde o amor ao próximo e a fé fossem os principais temas para o resto dos mortais e não a ficha criminal de algum líder religioso.
O local da reunião foi otro ponto de desgaste entre os máximos representantes das principais correntes religiosas foi outro ponto de desgaste e tensão. Entre os lideres do cristianismo, islamismo e judaísmo aconteceram os debates mais acalorados. Os outros quase não se pronunciaram perante o fato que essas três religiões monoteístas teoricamente agrupavam a metade dos devotos do mundo.
Faltou pouco para a reunião ser marcada em Jerusalém, cidade que abriga importantes locais icônicos das três religiões mais numerosas em fieis. 

1) O Domo da Rocha, o terceiro local mais importante no Islamismo, que acredita que foi onde Maomé subiu aos céus.
2) Igreja do Santo Sepulcro, local da crucificação, do enterro e da ressurreição de Jesus Cristo, para o Cristianismo.
3) O Muro das Lamentações, parte do Segundo Templo, local sagrado para o Judaísmo.

As necessidades concretas para a realização do gigantesco encontro ecumênico falaram mais alto que os outros argumentos, por importantes que fossem. O local foi escolhido em votação secreta e virtual. Muitos sabiam que quase não existe secreto na informação que circula pelas nuvens, não as dos céus mais as nuvens do mundo cibernético. De todas maneiras assim foi realizada a votação.

A decisão foi anunciada: "A Mesquita Alharam, na cidade saudita de Meca, obteve maioria de votos". Pesaram os argumentos de ser o maior centro de peregrinação do mundo e o lugar mais sagrado do Islamismo, religião com mais fieis depois do cristianismo. Foi negociado entre os monoteístas que a estatua do Cristo Redentor do Rio de Janeiro seria aprovada para a realização de algum outro futuro ato ecumenico de primeira grandeza. A longo de milênios política e religião estiveram misturadas. 
Dois meses dias depois dos primeiros telefonemas, a maioria dos líderes religiosos e vários representantes agnósticos começaram a chegar a Meca para buscar uma resposta concreta ou divina perante a catástrofe que cada dia seria maior. O número máximo de participantes por grupo religioso seria de "setenta vezes sete", por iniciativa dos crentes na Biblia.
Alguns chegaram encima da hora da abertura dos trabalhos. Furações, tornados, nevadas, inundações, deslizamentos em estradas que levavam aos aeroportos foram os principais motivos dos atrasos. 
Um religioso belga inscrito morreu durante um furação tropical em Bruges que nunca antes tinha registrado esse fenômeno. Outro religioso da Sibéria teve um infarto como consequência do calor de 48 graus,impensável uma década atrás. Um evangélico se afogou na alagada sabana sul-africana. Um cardeal argentino faltou aos sofrer graves feridas quando uma onda de 15 metros do Rio da Prata arrasou a pista da Aeroparque. 

Também faltaram a cita pastores convocados de Petrópolis (RJ), da área metropolitana de Belo Horizonte MG) e um sacerdote de Franco da Rocha SP), que morreram em deslizamentos de terra depois de chuvas torrenciais sem precedentes nessas localidades brasileiras. Cinco líderes religiosos americanos chegaram atrasados pelo cancelamento de voos pela neve de dois metros no leste dos Estados Unidos. Dois bispos australianos faltaram ao ficar isolados pelas enchentes numa região que até poucos anos era um deserto. 
As vitimas no mundo pelas mudanças climáticas fizeram esquecer por momentos os milhões de mortos pela última pandemia. Para esquecer uma grande tragédia basta outra mais recente. 
Todos juntos rezaram, oraram, clamaram pela ajuda de Deus, dos Deuses, cada grupo a sua maneira, unidos como nunca antes a História tinha registrado.
A força faz a união
No âmbito político das Nações Unidas, os governos dos países travaram homéricas batalhas e foram alcançando acordos para diminuir a catástrofe em marcha. Uma corrida contra o relógio, que já estava bem adiantado.
Foram tomadas medidas drásticas para reduzir efetivamente a poluição do ar, contaminação de rios e mares, mudança completo dos padrões energéticos. Fico proibido todo desmatamento pelo seu impacto no regime de chuvas e temperaturas, o funcionamento de fábricas que elevassem a temperatura, limitada a circulação de veiculos e aviões. Desta vez era em sério.
Os países com satélites fizeram uma rede para que todo atentado ao meio ambiente chegasse rapidamente a todos.
Foi criada uma Força de Intervenção, nos moldes das Forças de Paz, porem com o mandato para invadir todo território cujo governo alentasse algum tipo de destruição da Natureza ou fosse incapaz de controlar algum processo interpretado como  ameaça para o resto da Humanidade.
As forças de reação da Natureza perante a sua destruição não reconheciam fronteiras estabelecidas por antigos impérios, por invasões, pilhagem ou pelo direito internacional moderno. Os furacões arrasavam, os rios desbordavam, os mares avançavam, as geleiras derretiam sem mostrar passaporte para atravesar fronteiras dos humanos.
A Mega-catástrofe passou a ser enfrentado com trabalho conjunto sem fronteiras. As soberanias utilizadas como escudos desapareceriam pela razão ou pela Força de Intervenção criada pelos então membros permanentes no Conselho de Segurança desse momento: Estados Unidos, China, Reino Unido, França, Alemanha e Russia. Nessa emergencia total planetária ninguém poderia usar o direito a veto. 
Vários países fora do Conselho de Segurança se opuseram inicialmente. Foram foram convencidos pelas vias diplomaticas, por sanções duríssimas ou pelas "operações diretas" dessa Força, integrada por efetivos de forças especiais dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Essa Força não tinha sido criada como golpe publicitário, era para valer, de verdade. 
A Força de Intervenção contava com todo equipamento de última geração e os maiores especialistas para guerra cibernética, alem de dos comandos especiais para desestruturar qualquer governo do mundo em 12 horas, com "poucos danos colaterais".
Se algum rei, presidente o primeiro ministro pensou que era um blefe ficou no pensamento porque nenhum deles pagou para ver. Ninguém gostaria de ser qualificado como "dano colateral".
Toda regra tem exceção. Um presidente sul-americano atreveu-se a desafiar a essa força militar e tecnológica das maiores potencias unidas. Anunciou planes de megamineração e de liberação de garimpos, criação extensivo de gado e plantação de grãos em regiões intocadas da selva amazonica. Quinze horas depois do anuncio, esse presidente foi capturado por um comando da Força e levado a um hospital psiquiátrico de Coreia do Norte. 
Só faltava que Deus aparecesse nesse momento único em matéria de consensos entre religiões e governos de todo o Planeta. 

....Deus não apareceu com uma imagem ou semelhança com ninguém. Deus chegou a cada um de todos os humanos da Terra, a sua maneira...
O discurso de Deus

"...Sou Deus. Estou agora na mente de cada um de vocês, humanos na Terra. Minha mensagem chega  na língua de cada um de vocês. 

Estou me comunicando com você com a voz do seu ser mais amado para chegar ao coração, num momento de união nunca vista desde que os humanos se multiplicaram na Terra.

Os humanos ficam deslumbrados pelos avanços tecnológicos da espécie. E agora?

Vocês conseguiram fazer armas nucleares para desintegrar o Planeta que ahora dizem querer proteger. Transformaram grandes invenções em ferramentas para matar, como aviões, raios laser, submarinos. Criaram sistemas de comunicação entre os homens por onde o odio avançou e a ignoracia espalhou. 

É uma ilusão desastrosa a idéia de conseguir segurança por meio do armamento. A paz não será alcanzada de ter em mente um próximo conflito. 

Quando sobra comida não conseguem distribuir alimentos para todos. Calculam exatamente a hora que o Sol se põe e não choram de emoção perante esse espetaculo diario.  

Sabem pouco ou nada de Amor. Um amor que os faria felizes e pacíficos, em harmonia com outros mamíferos, aves, peixes, plantas, comigo.

Vocês me chamam por diferentes nomes. Estou em cada partícula de tudo. Sou a energia cósmica. Estou em cada ser humano e nas outras 5.000 espécies de mamíferos, algumas com DNA quase igual ao de vocês, como as dos chimpanzés.

Estou nas flores, na brisa, nas profundezas do mar, na neve das montanhas, numa caricia, num olhar de compaixão. 

Sou o Criador. A Natureza tem regras, e vocês violaram quase todas. Ela não é inimiga. Vocês a forçaram a buscar o reequilíbrio e agora clamam por ajuda divina para enfrentar os efeitos da mudança do clima.

A atual união global está empurrada pelo medo e não pelo amor. 

Não adianta rezar, orar, clamar ou louvar meu nome em alta voz se não amam de verdade cada ser vivente. Sou pássaro, planta, árvore, gota de mar, rio, fonte ou orvalho. Fazem guerras invocando o meu nome. O Inferno que muitos temem existe. É o que vocês criaram com desamor e desprezo a vida. Não terão paz se praticam a injustiça.        

Toda essa Natureza é para desfrutar e proteger vossas vidas. Estou na Natureza.  Certamente não me encontrarão em templos utilizados para lucrar materialmente com a fé de muitos. Nem nas arengas castrenses ou nas mensagens de capelães abençoando armas. 

A Natureza é o meu templo maior. 

Se todos os recursos aplicados em produzir inventos para matar fossem para recuperar ar, solo e água o meio ambiente estariam longe da aflição. Se todos os homens e mulheres treinados para matar fossem mandados a plantar árvores, limpar rios e proteger fauna e flora, a Humanidade não estaria pedindo milagres. 

Se deixassem de jurar sacrificar a vida por bandeiras e vivessem para amar o próximo como amam a si próprio. Se ficassem unidos no amor surgiriam todas as respostas a todo.

Uma união onde pouco importariam as convicções, opiniões, origem, cor, sexo, somente irmãos tolerantes e amorosos, filhos de um de um planeta que todo oferecia para uma vida plena.  

Nem julgo, nem castigo, nem me irrito. Sou puro amor.

Esse amor que sempre transmiti para voçês é o único caminho..."  

** Guillermo Piernes, jornalista e escritor
Pintura O Pentecostes - El Greco

*** FATO sobre Um conto quase divino
Um conto quase divino é uma homenagem ao magistral escritor espanhol Enrique Jardiel Poncela, considerado pai do humorismo moderno, autor do antológico livro La Tournée de Dios, lançado quase cem anos atrás, quando a escuridão avançava na Espanha e outros países da Europa.

Uma época de crescente intolerância política, perseguição a jornalistas, envolvimento das forças armadas na política, desprezo a ciência e a cultura, além de ativo fanatismo religioso.

Tanta ignorância deu inicio a sangrenta Guerra Civil espanhola (1933 a 1939).

Sem grandes bombardeios ou armas modernas, o conflito deixou aproximadamente 540 mil mortos. Além desse número, milhares morreram de doenças provocadas pela alimentação deficiente, e milhões fugiram ou emigraram especialmente para países latino-americanos.

Poncela sempre se definiu como um intelectual longe da direita e da esquerda, para manter livre o seu olhar crítico, e o seu fino humor.

Não adiantou. Os direitistas e esquerdistas dogmáticos atacaram muito esse brilhante jornalista e escritor. A Igreja Católica - que apoiou um dos lados no conflito - aprovou a excomunhão do autor da Tournée de Dios.

O autor do Conto quase Divino encontrou inspiração inspirado no livro do Poncela na adolescência. O escriba espera não sofrer a excomunhão da Igreja Católica, nem agressões de fanáticos dos templos milionários, ataques cibernéticos, perseguição fiscal, policial, miliciana, porque se trata de pura ficção. O autor acredita que pela sua mínima estatura literária ficará longe de barbáries.

Se acontecer alguma brutalidade contra este autor - como sabemos os bárbaros não distinguem ficção de realidade - é porque "...eles não sabem o que fazem...".

Guillermo Piernes
Autor do Conto quase divino 




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